17 de set. de 2014

afago

aquilo que
ao toque
contrai-se, vibra e goteja,
escorre pela pele ao pelo
sob o cheiro de íntimo,
de consistência lacrimosa
e temperatura que não se quer saber o que é:
ora é quente,
hora é fria.
não almeja o morno.




"Quem és? Perguntei ao desejo.
                Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada."

perguntou-me do que era eu feito
- de tudo o que é secretado - tentei ter dito
não respondi nada.
expressei algo entre os olhos e os lábios
e deixei que entendesse à sua maneira

porque ao desejo
todo
 e qualquer jogo de estímulo




é ressignificação

10 de set. de 2013

mofo

um substantivo comum
letra minúscula e umidade. bolor fungo bafi
mas eu,
eu mofo
é uma anunciação, um desabafo. assunção

29 de ago. de 2013

a arte não vai me salvar

nem que eu reze e peça pra são sebastião, que rogue por mim e não veja fim em esperanças que possam haver con me.
eu sei que não vai. já me disseram.

23 de jul. de 2013

a soda cáustica

por opção
imagine como seria o canto da pele queimando em soda






agora, 
imagine cuspida por mim
.

hiatos?

tudo começa pela questão de atos. são comportamentos que definem o sentido de uma existência. ora existo ora desisto.
por mais que peneje, inocência nunca foi o forte da Gente.
a Gente se faz, por uma questão de fetiche.
questão de atos, de fetiche.
a Gente é mesmo todo cáustico.
eu sou
babo soda quente!
tenho quatro das glândulas. três cospem, uma é soda cáustica. baba corrosiva. língua de trapo.
mas faço que não, por uma questão de fetiche. ou de incoerência mesmo.
não há o que mais me custa que ser que incoerente. custa e goste.
além de fetiche, uma questão de atos.
suponhamos que assumamos nossa hipocrisia...
o poder da arte.
basta que eu assuma uma hipocrisia para que eu não o seja mais, hipócrita. verso reverso
passa a ser perdão.
pecado, quando percebido, é absolvição.
questão de tempo
para que vire hipocrisia de novo.
a Gente é tudo bicho de maçã. de maçã mordida.
e eu peco. eu ajo. eu peço pelo meu fetiche. toda Gente precisa dum misticismo enquanto em vida, porque quando morte, essa é a pura mística traduzida.
uma questão de abrir a porta dos fundos. porque a da frente a Gente preserva. e enxerga o que entra pelos fundos como abismal. a Gente pecando  hipocrisia. porque de uma forma ou de outra, a Gente sempre abre a porta. e tranca do lado de dentro, pra preservar o que veio dos fundos, tanto quanto, quiçá mais, os das portas das frentes.
eu repenso minhas portas da frente. e as de trás.
e repenso minhas questões
meus fetiches
minhas artes
meus tempos
meus atos.
faço uma marmita de questões únicas, que repenso o mesmo e chamo de tangência.
tangência dos hiatos. das minhas fendas, feridas.
que eu lambo em soda cáustica e observo tudo borbulhar, enfervecer, e pendo pro lavar com água e sabão ou cuspir mais em cima.
por questões de atos
eu não ipermeabilizo
eu cuspo no corte, quase o dedo na ferida nos hiatos.
e atos?

14 de fev. de 2013

contra-senso


que seja minha mácula toda a pureza moral que neles
quero saber de tudo os desinteressantes
duvidar daquilo que for absoluto pra deus
e que deus duvide das minhas certezas.
quero fazer uma prece ao contrário
contrariar, contradizer, contrapor, contraser
quero girar no caminho daqueles que passam apenas reto.
quero que eles não saibam dizer quem sou eu
não quero saber quem são eles
quero que eles não compreendam.
quero inventar uma palavra e inventar um idioma e inventar uma civilização
inventar as histórias os contextos e fazer da invenção a realidade
quem há de garantir que não é real?
mas eles não hão de saber dizer quem sou eu, quem são eles. eles não hão de entender o que digo.
tudo o que é meu parecerá dissimulado e eles hão de dizer que ajo feito ninguém.
é então que terei cumprido, desamarrado toda a minha referência e me desprendido de qualquer intenção de ser e estar.
quero contraser.
não me basta a existência se nela eu não invento
não me basta a existência se ela eu não modifico
não me basta existir como se não existisse.
que eu exista neles
e resista à toda consistência
e consista uma potência
e potencialize a crença
de que tudo existe
e resiste
e é.